6 de novembro de 2013

Eu quero, eu quero, eu quero.

Não é a Venezuela mas parece que esta época natalícia anda aí com umas imposições estranhas.

Desde o fim de semana passado que circula lá por casa uma folha A4 e respectivo lápis para que em todos (TODOS) os intervalos dos desenhos animados a mãe ou o pai apontem os brinquedos que anunciam (e que lhe agradam) e que ele (está a decidir se) pede ao Pai Natal. 
Já foi avisado que não podem ser muitos brinquedos e não querendo mais uma vez justificar essa "privação" com a falta de dinheiro que ele já sabe que não abunda, dissemos-lhe que o Pai Natal não trabalha só para ele, é para todos os meninos e que ele às vezes até nem se porta assim muito bem.  A conversa do costume, provavelmente não desconhecida da maioria das famílias.

Esta "brincadeira" tem servido para ver com outros olhos a publicidade que é dirigida às nossas crianças e que a maior parte das vezes nos passa completamente ao lado.
Não querendo entrar na qualidade da publicidade dirigida à infância (embora me apetecesse imenso) - que diga-se de passagem é um mercado extremamente rentável, doa a quem doer - sabemos que (essa) publicidade leva a criança a sentir que será melhor e mais feliz se possuir determinado brinquedo.  
Existem vários estudos que se debruçam sobre a disseminação de valores consumistas e construção de hábitos alimentares não-saudáveis (um, dois, três...)
Por curiosidade, descobri que na Suécia  a legislação proíbe qualquer tipo de publicidade na televisão dirigida a pessoas com menos de 12 anos antes das 21 horas - porque antes dos 8 anos a criança não tem capacidade de reconhecer o carácter persuasivo da publicidade e somente aos 12 anos é capaz de construir uma postura mais critica. E muito bem.

Mas, dizia eu que não vou debater aqui a qualidade da publicidade, a minha preocupação, agora que tenho observado um pouco mais este mundo, prende-se com o tipo de brinquedos que enchem as prateleiras das lojas. Sabemos que as crianças aprendem pela observação e sabemos que a publicidade fornece modelos de comportamento que as crianças imitam. Sabemos também que o brinquedo mais publicitado torna-se o brinquedo mais apetecível. 
É inevitável não reparar na diferença de valores atribuídos a brinquedos para meninas e brinquedos para meninos. O meu filho regra geral quer pistas, carros, bolas, jogos, etc. Já os anúncios para meninas assustam-me, não posso precisar em números mas entre bonecas para pentear (animais incluídos), bonecas que vão às compras, bonecas com malas de viagem, bonecas top-model (que tomam pequeno almoço em Paris), bonecas com centros comerciais (pelo menos duas colecções/marcas de bonecas trazem o seu espaço de consumo), não restam muitas mais. 
Eu sei que não são as únicas bonecas do mercado, mas são as que passam em contínuo nos anúncios de televisão. 
Serei só eu? Mas o que estamos nós a fazer? Que geração é que nós estamos a criar? 
Estaremos todos tão aparvalhados com as dificuldades diárias que achemos que na luta pelo estímulo à nossa economia vale tudo? Será que neste esforço pela sobrevivência das empresas é mais importante impor às meninas hábitos estúpidos deconsumo e modelos de comportamento fútil do que acabar com fidelizações ou baixar o IRC das empresas?
Estaremos nós todos tão desiludidos que achemos que nem vale a pena perder tempo com isto?

2 comentários:

  1. Estou completamente contigo!! As Nancys que tomam o pequeno almoço em Paris depois de um desfile em NY sao demais!! Por cá, a lista para o pai Natal também é imensa e a culpa não é dos miúdos, mas eles sao bombardeados de uma maneira que até assusta! É a formação de mais umas gerações de consumidores desenfreados.

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    1. Cabe aos pais tentarem perceber o que é suficiente ou nos tempos que correm, essencial. E principalmente conhecerem os filhos porque muitas vezes pecamos por querer comprar tudo e mais alguma coisa sem que os brinquedos tenham algum significado para os diferentes tipos de crianças.
      E o pior é que com o bombardeamento intensivo eles começam a querer tudo.

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