25 de abril de 2016

E viva a Liberdade





Grândola pouco ou nada teve a ver com o 25 de Abril.  Grândola do 25 de Abril foi uma música. E a Grândola real apesar de ter percorrido o seu caminho desde 74, permanece meio  parada no tempo.  
Os foguetes à meia noite assinalaram a liberdade e hoje muita gente de passagem fotografava o monumento ao 25 de Abril.
Grândola  converteu-se num símbolo. E como um parente afastado, vive da fama que o nome alcançou. 
Grândola é uma vila morena, queimada pelo sol e pelos que a têm governado. E como vila não tem nada para oferecer.
A minha Grândola  é outra, é a Grândola da família, construída de muito trabalho. Longe do seu pequeno centro e das suas ideias.
Tem bom ar, muita natureza, e um tempo de fazer inveja ao resto do país. Estamos no campo, na encosta da serra, e bem pertinho do mar.
A minha liberdade é sempre lá que a encontro.
Grândola não precisa estar na linha da frente, Grândola só precisa de começar a sonhar um pouco mais, e provar que é bem mais do que  Zeca Afonso fez dela.
E com azinheiras sem idade, Grândola, eu e o país celebramos o fim de uma ditadura que certamente não nos permitiria escrever assim.
E viva a Liberdade.

A vida num feriado


Um calor aconchegante envolve-nos. No ar o perfume da natureza é intenso, escolho uma laranjeira e sento-me à sombra. 
Um mundo de azáfama cobre cada uma das árvores e fico a ver o vai e vem dos insectos. 
Os pássaros mais ao longe e os insectos bem perto de mim são os únicos sons presentes. As cores vivas e metalizadas de alguns bichos despertam-me a atenção. A natureza é brilhante.
Fecho os olhos e inspiro tudo, sinto-me desperta e feliz. É de manhã, por isso a moleza ainda não anda por perto.
Vesti uma t-shirt, uns calções e calcei chinelos. Há uma eternidade que não vestia algo tão leve, o corpo agradece. Está um dia de verão. 
Ao longe, na vila, a sirene dos bombeiros toca o meio dia. Preparamos uma mesa na rua e almoçamos as ervilhas que colhemos ontem ao final do dia. 
O sol forte queima e agora sim, a moleza instala-se.
 Ficamos na mesa à conversa. 
Este ano faltam membros da família, somos cada vez menos. Falamos deles, recontamos  histórias e assim permanecem connosco.
A única intranquilidade cá dentro prende-se com a viagem que ainda temos que fazer para Lisboa, nem falamos disso para fingir que não existe. Deixamos o tempo passar. 
Está um dia de verão.

19 de abril de 2016

16 de abril de 2016

Assustador

A criança cá de casa recebe 10€ por mês (de mesada) porque está a juntar para comprar o seu tablet.
Porque cá por casa também já pouco se emprestam tablets, e às vezes de castigo já se passam semanas sem poder tocar no telefone (da mãe ou do pai). Depois vejo reportagens como esta e a minha cabeça começa a viajar naquelas viagens que só os pais conseguem ter,  daquelas viagens alucinantes que nos deixam de coração nas mãos o resto da vida. E questiono-me se estaria no meu juízo perfeito quando concordei com esta coisa de mesada (e ele não sabe que por cada dez euros que recebe para o mealheiro do tablet, eu retiro 5 para a conta dele...).
Fiz questão de o sentar ao meu colo para ver a reportagem comigo. Mas por enquanto ele consegue explicar tudo muito bem e diz que não passa seis horas seguidas a jogar.  Pois não, a bateria do telefone não aguenta  ou então está na escola...
A não deixar de ver. 
Só um alerta: Para quem não viu a reportagem da RTP em Janeiro, é garantidamente causadora de pesadelos.

Maldita varicela

A varicela chegou disfarçada como qualquer outra virose que se preze. Chegou certa manhã com uma baba que deu muita comichão e pôs-me à procura de melgas no quarto da criança. Depois, ao fim do dia, veio a ameaça de febre e o piolho ficou todo sarapintado, a varicela instalou-se em força. 
Tinha feito uma visita aqui há uns quatro anos mas foi tão levezinha que quase não demos por ela. Mesmo das duas vezes anteriores que visitou a escola, não quis nada connosco.
Agora anda por aí em força, em várias escolas, e várias casas. 
E sendo improvável, parece que não é tão raro assim apanhar varicela uma segunda vez. O chato foi ter levado o miúdo a passar pela vacina. E afinal era escusado.
Fiquei também a saber de um menino que teve varicela três vezes, foi-me dito pela própria mãe. Não sei se foi algum caso de sistema imunitário mais debilitado, mas aconteceu.
A semana passou-se em part-time, ora em casa, ora a trabalhar. Ora com a mãe de plantão, ora com o pai. Todos os dias chegaram trabalhos da escola e essa foi a pior parte, mas agora acho que as saudades dos amigos já são tantas que tudo vai correr bem no regresso de segunda-feira.
O bom (!) é que não foi um drama, apesar de tudo, foi tranquila esta passagem da doença. Só houve febre na primeira noite e curiosamente, não houve comichões (excepto aquela primeira baba). Por via das dúvidas houve banho com farinha Maizena, e uma colherzinha de sobremesa de anti-histamínico ao deitar e isso deve ter feito toda a diferença.

(tinha dois "nús" artísticos para colocar neste post mas o blogger não está a colaborar...)

O que as mães sabem

Eu sabia, eu sabia que havia uma boa razão para ter um filho aos 38!
Aqui

Apartment Therapy

(daqui)




Não me lembro da primeira vez que li este nome ou vi este site, mas, tem sido assim, é o que me ocorre quando penso neste último mês. Não tanto na linha do site, mas numa tradução à letra, levada a um outro nível.

A nossa casa não é velha, tens uns quinze anos, e sendo uma construção já deste século, merecia um outro tipo de atenção, talvez um pouco mais de cuidado por parte de quem a construiu.
Como em tantos outros aspectos da vida, só ficamos mesmo conhecedores das situações depois de embarcarmos nelas. Com as casas é a mesma coisa. Só depois de lá vivermos é que percebemos bem os materiais de que são feitas.
E infiltração após infiltração decidimos que estava na hora de mudar umas coisas.
Nós saímos e o Paulo entrou.
O Paulo trata-nos do quarto, da casa de banho, e da infiltração massiva do corredor, uma daquelas que deixa chover dentro de casa quase tanto quanto na rua - é um exagero claro, mas é o que sinto quando depois de uma chuvada forte me começam a cair gotas de água dentro de casa. Um desespero.

E nós saímos porque temos a sorte de  ter guarida em casa do avó e do avô.
Estou a cinco minutos da escola e do trabalho, é outra qualidade de vida. E assim começa a tal da terapia.

Mudámos temporariamente de casa, temos a mesma vivência numa casa diferente. Bastam-nos cinco minutos para chegar a onde interessa e nesse aspecto o stress é menos de zero.
Aqui da janela vemos muitas casas, muitos carros, muita estrada, mais do que aquilo a que estamos habituados, mas, tem o seu encanto, é como se estivéssemos de férias. Às vezes imaginamos em voz alta como poderemos mudar a nossa vida um pouco mais para facilitar o que não está tão bem. É bom sonhar que podemos fazer muita coisa.

Gosto muito da minha casa e do local onde ela está. Muita natureza, muitos bichinhos, vizinhos simpáticos e muita tranquilidade mas, como diz uma amiga minha, são anos de vida que se perdem no transito todas as manhãs.  Não é fácil.

Este últimos mês reforçou o que tenho vindo a aprender nos últimos anos, não precisamos de muito para viver.
Viemos por três semanas e já lá vão seis. As obras têm este condão, de se prolongarem indefinidamente. 
Não temos pressa, estamos bem mas não viemos propriamente preparados para meses de estadia - daí dizer que podemos mesmo viver com muito pouco ( e apesar de estarmos perto de casa, temos tudo encaixotado e armazenado, é pouco útil recorrer a alguma coisa que não tenha vindo).
Cada vez mais reforço o quanto melhor é possuir uma experiência/vivência do que um objecto. Não há comparação possível.

Mas a "terapia" tem sido interessante, estou de volta ao meu antigo espaço (ao meu quarto) mas já foi há tanto tempo, já não tem nada de mim. A vida continuou e eu também. 
É giro perceber que a vivência muda em função do espaço e a nossa interacção também. Estamos os três em vez de cada um se espalhar pelo seu espaço. O espaço é e não é nosso. A avó e o avô às vezes estão e outras não estão. E até a Mia se porta de forma diferente.

E eu aprecio um espaço diferente com uma decoração diferente e uma luz diferente. Encanto-me com essas pequenas coisas porque é bom gostar do que temos.
Quando voltarmos teremos uma noção diferente de tudo o que está a mais, de tudo o que já não nos serve porque nem sentimos falta, e seremos também já capazes de fazer as mudanças que antes não víamos necessárias.