28 de maio de 2011
O acampamento de Lisboa
Puerta del Sol para aqui, Rossio para ali, confesso que já andava a ficar um bocadinho baralhada. Vai daí, resolvi lá dar um saltinho e ver o ambiente da coisa.
Algo que começou no consulado espanhol em solidariedade com os contestatários de Madrid, foi depois transposto para o Rossio (adoptado por espanhois "residentes" e depois por portugueses).
Concordo e defendo o direito á indignação e ao protesto, assiste-nos a todos (cidadãos livres em democracia), mais ainda se de uma forma pacífica e respeitadora da liberdade dos outros.
Mas há aqui duas questões fundamentais para mim.
A primeira é quando as crianças ("importa assinalar que a dormida de ontem contou, pela primeira vez, com a presença de crianças, que dormiram na Praça juntamente com os seus pais. As ruas, que são nossas, são agora também delas…") começam a ser usadas como veículo de protesto dos pais (ou de quem for) e colocadas deliberadamente em condições menos próprias de segurança, higiene, e conforto.
E a segunda, se aminha liberdade começa onde termina a liberdade do outro, o recíproco também é verdade. Daí que eu sinta com habitante, cidadã cumpridora de leis, normas e regras que me são impostas diariamente (nomeadamente em termos de impostos) que tenho o direito a ter uma Praça do Rossio, o local emblemático que é, liberta, limpa, habitável, atractiva e segura para um passeio a qualquer hora, para uma caminhada, para o turismo, que no fundo ainda é o que vai valendo aos comerciantes desta zona não tão protegida e intocável como se possa pensar.
As pessoas estão cansadas, estão desiludidas, têm cada vez menos poder de compra e talvez por isso se agarrem a tudo ao seu alcance porque pode ser que de algum lado venha algo de bom. E pode até daqui sair um movimento brilhante de cidadãos, não contesto isso, mas há condições e regras de boa cidadania.
Também me assusta o desemprego, claro que assusta, e é de facto urgente uma reinvenção da política e dos governos, mas acções de "marcha e resistência", trazem consigo uma conotação de "ir até às últimas consequências", e isso, logo á partida, não me revela preocupação com o próximo.
Numa altura da minha vida em que tive mais disponibilidade, estive ligada a uma campanha de mobilização por um assunto que me é muito caro (a pobreza), e em nome de ajudar o próximo, nunca ultrapassei (nem eu, nem quem comigo estava) limites nem tive comportamentos irreverentes (independentemente da idade). Porque não nos pode ser tudo permitido e desculpado o tempo todo.
Sim, façam-se campanhas, apelos, manifestos, marchas pacíficas, o que fôr, mas respeitemo-nos mutuamente, faça-se valer a palavra e não se perca a razão pelos actos. Há que pensar um bocadinho, nós já vivemos em democracia, e lá porque importámos um movimento, não significa que o tenhamos que importar com todas as suas fraquezas e ameaças. Somos diferentes na nossa maneira de estar, de pensar, e de agir.
Há que levar isso em conta.
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