29 de novembro de 2012

O que somos e o que queremos ser. Nós na vida.

Pertenço a uma família mais comprida do que larga (comprida em idades e estreita em quantidades). Nem sempre foi assim, mas no último terço do séc. XX, onde me insiro (e onde nasci) já o tempo tinha há muito começado a devorar a fatia da largura das épocas  em que o número de filhos se media na casa das dezenas.
Dizia eu que tendo pertencido a uma família de poucos elementos, em que a proximidade sempre se fez na vertical, em que os membros mais novos sempre partilharam das dores das mazelas e apoquentações dos mais velhos e, em que estes últimos sempre atentos, profetizando muitas vezes a desgraça a cada esquina, alertavam de modo intensivo para as agruras que a vida trazia aos menos preparados. Não foi por isso evidente encontrar aquele companheirismo ou cumplicidade que as amizades das mesmas idades trazem. Nem os mesmos assuntos ou interesses.

Assim sendo, sempre fui dada a um certo "grau" de isolamento, um pouco de melancolia mais trazida pelo sossego do que por algum acontecimento triste. Muito dada à leitura e à escrita (daquela que se faz na adolescência) e como se dizia lá pelos brejos, muito dada a ser "bicho do mato" - porque me enfiava na toca e de lá custava a sair. Não é algo que goste ou deixe de gostar, é assim, foi assim. Teve as suas coisas boas e teve as suas coisas más.

Tanto quanto posso, tento que o meu filho (membro desta mesma família) tenha um variado leque de presenças das mais diferentes idades junto dele. Uma vida o mais cheia de gente que me é possível. Ele gosta, ele adora ter companhia embora me peça às vezes para ficarmos em casa porque não lhe apetece sair - momentos de calma e tranquilidade.

Sempre tive por companhia uma cabeça povoada de pensamentos, dezenas de blocos, cadernos, diários, livros. Espaço para percorrer e cães, muitos cães. Se tivesse tido escolha, queria ter tido um pouco mais de confusão, de gente com quem partilhar tudo em vez de viver basicamente dentro de mim (mas sem prescindir dos cães). Ou talvez não, sei lá.

Bom, tudo isto, porque achando que sei o que é melhor, "quero evitar" que o meu filho se torne um ser solitário. Mãe nenhuma quer algo assim para o seu filho. Quero que seja uma criança feliz, rodeade de gente que lhe quer bem para que cresça com a segurança que o amor e a alegria transmitem. Que venha a ser uma pessoa sociável e com muitos amigos.

Por isso, ontem à noite, depois de um pequeno ralhete em que ele ficou chateado, se foi enfiar na cama sem me responder quando falei com ele, e quando finalmente falou para me dizer que estava chateado com ele próprio, os sinos dentro da minha cabeça tocaram todos em alerta. "Mas estás chateado porquê, meu amor?" E muito sério dizia quase mais para ele do que para mim "Porque faço asneiras. Desculpa mamã." Agarrou-me na mão.

Céus! Não, não, não, não! Tens três anos, não te podes chatear contigo. Mas que conversa é essa? Que mundo é este? Que pensamentos te começam a povoar?
És pequenino, faz as asneiras todas e alegra-te com o que os disparates te trazem. Experimenta, descobre, aprende. Ri, ri muito e se quiseres apenas ficar a pensar, pensa na segurança e no amor que te rodeia, na alegria com que podes simplesmente ser criança.
A mãe ralha contigo porque é o que as mães fazem. As mães às vezes esquecem-se que os filhos são pequeninos e querem que eles consigam compreender tudo do modo como elas compreendem. Elas depois lembram-se que não é bem assim...
Tudo que quero é que sejas feliz, sei que não conseguirei evitar que sofras e sei que algum desse sofrimento será aos teus olhos infligido por mim. Doi-me saber isso, mas, a vida segue assim, o mundo não é de algodão e as mães não são seres perfeitos.
Nunca te esqueças que te amo muito.

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ideias caídas das nuvens