8 de setembro de 2013

O Verão

Para mim o Verão terá sempre maiúscula. Mais pelo sentido, pela estação que é, pelo que nos dá do que pelo Acordo ortográfico.
A Primavera traz o parentesco no nome mas o Verão é por excelência o tempo dos primos.
 
Os meus verões da infância eram três infindáveis meses passados na companhia da minha prima, em plena vila alentejana, valia-nos a biblioteca municipal e uma ou outra amiga com quem ao fim da tarde corríamos a vila de bicicleta. Os banhos no tanque (de rega), o pão com manteiga e açúcar, a televisão a bateria, malgas de melancia ao lanche, as brincadeiras com os cães, os gelados feitos de refresco e congelados na arca. Açorda de alho, sopas de tomate, café de cafeteira, bolinhos de torresmos, e cartas, muitas cartas aos amigos que ficavam em Lisboa.
O céu nocturno era de cortar a respiração, tantas estrelas quantos os desejos dos homens. Este ano consegui voltar a vê-lo, há muito que não o via. Uma sensação de pureza e um banho de realidade, um alerta para o pequeno que somos comparado com o grande que nos achamos no Universo.
 
Este ano o G teve primos, muitos primos nas férias, este ano mostrei-lhe o céu nocturno e as estrelas que se escondem na noite, é um mundo novo que se revela aos nossos olhos. Inspirada pela visão disse-lhe que poderá ser tudo aquilo que ele quiser, as opções são tantas quantas estrelas há no céu.
Perguntou-me se era para aquele céu que íamos quando morremos. Expliquei-lhe que voltávamos para o sítio onde estávamos antes de nascer. Desconcertou-o mas deve ter-lhe dado alguma tranquilidade, não voltou a falar no assunto.
 
Mas o menino crescido já teve um Verão diferente, ao mesmo tempo que tentamos levá-lo a um qualquer sítio novo, tentamos juntar-nos sempre com a família para que tenha o melhor de todos os mundos. E é estranho vê-lo a resolver coisas com os primos, a combinarem o que vão fazer, a passear com eles separado dos adultos, sem "trela" (figurativamente falando). E ainda só vai fazer 4 anos! Às vezes acho que cresceu tanto neste último mês que já nem é o mesmo menino. E às vezes até acho que nem eu sou a mesma pessoa.

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