19 de fevereiro de 2013

Filhos

Ontem o pai foi buscá-lo.
"- Sabes pai, quando tiver onze anos vou ter um maninho que chama António. É assim, é o três, depois é o quatro, depois é o cinco, depois é o seis... e quando for o onze vou ter um maninho."
 
Talvez ele saiba algo que eu não sei mas, a ser verdade, será de outra mãe. Não me estou a ver aos 50 anos grávida, cheia de força e vitalidade para começar tudo de novo. Talvez um último esforço agora, talvez, mas aos 50 não. Coisas mais estranhas já aconteceram sobre a terra, e o futuro, como se diz por aí, a Deus pertence.
 
Hoje de manhã enquanto o vestia ataquei de novo:
- G, olha o queixo cheio de baba, a chucha é mesmo uma porcaria.
Ele tirou-a, estendeu-a para mim.
- Toma, eu empresto ao meu maninho, é p'ó meu maninho.
Aceitei-a e coloquei-a em cima da cama
- Mas a mãe e o pai não vão ter  um bébé.
Ele olhou-me e franziu a sobrancelha: - Porquê?
- A mãe não tem dinheiro para comprar papa nem fraldas ao bébé, isso não é bom pois não?
Não respondeu.
 
Se eu gostaria? Gostaria sim, do mais fundo do meu ser e com todas as forças que tivesse que encontrar, mais por ele do que por mim, mas a vida, dizem, é sábia e essa sabedoria está-nos reservada para qualquer outra finalidade.
Sei o que foi crescer filha única, com os holofotes todos apontados, de ter que estar à altura das situações, de ter que chegar onde era esperado. Estar sob escrutínio não é fácil nem agradável, e nunca tive feitio para ser o centro das atenções.
Lembro-me de pedir um irmão, lembro-me de crescer sozinha.
Esse tempo já passou há muito mas lembro-me como se fosse ontem e queria melhor para o meu filho.
A atenção dos pais deve ser mais diluída, os filhos devem ter o espaço e o tempo de criar as suas asas.
Nós devemos poder concentrar-nos em vários pontos, ter sentimentos contraditórios e no mesmo dia conseguir superar várias provas e ganhar uma medalha (mental) por isso. Torna a vida mais interessante  e o passar o teste tem todo um novo significado. Uma única criança não deve ser o objecto da nossa "tirania" boa ou má. Não é saudável.
E depois o retorno, o retorno é a dobrar, que bom que deve ser.
Nota mental para mim, na próxima vida, começar cedo, independentemente do que nos dizem. Às vezes aquilo que achamos que é importante, não é.

3 comentários:

  1. Aconselho vivamente a dares um maninho ao teu menino. Não deixes passar muitos anos ;) Eu não estou arrependida.

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    1. Acredito que nunca me arrependeria se o fizesse mas, não está nos planos, não está nas possibilidades imediatas, com muita pena minha.
      Mas obrigada pela força, vindo de quem vem, significa muito :)

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  2. Como te compreendo. Não imaginas como.
    As tuas palavras fazem-me todo o sentido.
    Um beijinho grande

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