19 de junho de 2012

Realidades diferentes

Confesso que a questão do voluntariado é algo que me é próxima, sempre foi.
Gosto de voluntariado, dá-me uma sensação de plenitude, dá um sentido à vida. Confere-nos mais utilidade ainda, e há uma satisfação genuína em fazer o bem e dar conforto a quem não o tem.

Com um filho pequenito ainda, não posso nesta altura da minha vida,  dedicar tempo a essa causa.
Fico feliz por ver cada vez mais gente jovem a encontrar dentro de si tempo e vontade para se distribuir pelos outros.

Parece-me, no entanto, que num mundo justo ou correcto ou ideal vá, o tempo (às vezes anos) em que se faz voluntariado deveria contar (não só para quem é ajudado como para quem ajuda, que retira daí a satisfação pela acção, pelo trabalho, pelo bem) também para as entidades que avaliam candidatos e curriculos, mas não. A atitude predominante é: "Ah, se faz voluntariado está desfazado da realidade profissional, não sabe nada de trabalho a sério, falta-lhe experiência, etc." Quando por vezes as experiências foram de tal forma enriquecedoras que mudaram a pessoa e a capacitaram para avaliar  e agir de um modo tão mais preparado para o mundo actual, trazendo até soluções inovadoras para problemas que se perpetuam.
Porque é que a sociedade não vê isto?
Ah, é verdade a sociedade e o mundo profissional vivem do nepotismo, tinha-me esquecido.

Numa entrevista de emprego a que fui há alguns anos, a pessoa que me avaliou na altura e que mais tarde veio a ser meu chefe, achou interessante a questão do voluntariado e nessa mesma conversa/entrevista ele dizia-me que o voluntariado requer alguma coragem porque o voluntário tem que sair da sua zona de conforto para se dedicar ao outro. Eu nunca tinha pensado nisso, fazer voluntariado não tinha a ver comigo, era "para ajudar quem precisa". Mas ele tinha razão. É preciso coragem. Nem sempre quem é ajudado aceita bem essa ajuda, muitas vezes por questões de orgulho, muitas vezes acham que não precisam e muitas vezes não querem simplesmente mudar de vida. E ajudamos não porque sabemos mais, ajudamos porque podemos, porque é preciso, porque queremos, e é com humildade e entrega que se entra no mundo do outro para se ser aceite e se poderem reconhecer fragilidades, porque ali se encontra um ser humano igual a nós.

Mesmo assim, ainda bem que continuam a existir pais que incutem solidariedade nos filhos, o respeito e dedicação ao próximo. Mesmo assim, apesar de tudo ainda bem que existem pais "desfazados da realidade" que incutem isso mesmo nos seus próprios filhos.

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