O camião do lixo urbano sobe a rua entre as 13 e as 15 horas.
Um homem conduz e duas moças atrás empoleiradas nos suportes agarram-se ao trabalho com as duas mãos.
No semáforo vermelho saltam do degrau e adiantam trabalho. Sobem a rua, juntam as caixas depositadas nos passeios em pontos estratégicos de recolha.
O camião avança e quase não precisa de parar, elas atiram o lixo, saltam e agarram-se de novo à pega. Nada de novo.
Mas hoje, da cabine, um menino faz adeus pelo espelho lateral, e a mãe, de cara fechada, não repara.
E eu pergunto, que vidas temos nós? Que país seremos quando as nossas crianças em vez de brincarem ou poderem ficar seguras e tranquilas algures, andam na ronda do lixo sem se aperceberem da obrigação que cumprem com a mãe?
São muitas, eu sei, este caso só me indignou um pouco mais por ser o camião do lixo... não desfazendo no trabalho destas mães/mulheres e homens que o fazem. Até porque ninguém sabe o dia de amanhã e com um filho para criar, qualquer coisa eu serei capaz de fazer.
Também tive os meus dias de acompanhar a minha mãe, e o meu filho também já se estreou nessas andanças. A diferença é que hoje em dia não há tempo para nada, não há compensações, quase não há tempo para o passeio no final do dia, no regresso a casa em que tudo se compensa, a companhia, o tempo, os afectos...
Quando tudo o resto falha, há que desdobrar mais uma vez a capacidade que julgávamos já esgotada e lançar mãos à imaginação. Com um bocadinho de sorte tudo se compõe e arruma de maneira a permitir que aquele dia que acordou ameaçador, difícil e complicado, afinal corra fluído, tranquilo e simples, apesar de tudo.
E que a lembrança que fica seja a de dias divertidos onde se pode ficar um pouco mais perto e atar mais um laço na complexa e permeável teia das relações humanas.
E depois, perto da mãe a cria está sempre bem, não é?
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