10 de abril de 2012

Hoje como nunca

Tive a sorte, uma sorte tremenda de crescer numa época de muitas dificuldades, uma época em que a própria vida, pouco dada ao sustento de vícios, nos ensinava o que era ou não pemitido ter, nos ensinava o que era um mealheiro e nos permitia, por vezes, vê-lo crescer. Numa época em que as dificuldades eram o impulso, a força motriz para ir à luta, sabendo sempre que a recompensa (fosse de que tamanho) chegaria, porque nessa época de grandes dificuldades caminhava-se em direcção a algo, o futuro por longe que estivesse, esperava por nós.

Não sei se sou só eu, mas não vejo solução para os tempos que correm, permanecendo neste caminho.
Num país em que cada vez mais o trabalho vale menos, em que a cada dia se tem menos capacidade de suportar a carga crescente.
Três quartos da despesa total do estado são salários e prestações sociais. Um trabalhador com um ordenado de mil euros, desconta cerca de cem para a segurança social e a entidade que o emprega, cerca de duzentos (237,5€). Este trabalhador "fornece" uma reforma... daquelas que não permitem sobrevivência!

Com cada vez menos população activa, conseguiremos nós imaginar onde se vai buscar o dinheiro para pagar aquelas pensões e salários milionários?
Isto faz algum sentido?
Cada vez mais empresas a serem esmagadas com cargas fiscais incomportáveis. Cada vez mais empregar fica mais caro.
E tanta gente a viver tão mal!

Eu sei que é fácil criticar e dizer mal mas não tenho sugestões que não passem por colocar limites de velocidade às loucuras do "eu quero, posso e mando". Pensões (plural) brutais num país pobre, pobre de políticas, de acções, de vontade...
Todos as regras que se tentam "impôr" são sempre a partir "dali", dali para a frente, "medidazinhas de encher chouriço", não há retroactivos, não se retroage para não melindrar regalias adquiridas e quando assim não é abrem-se excepções porque isto de dinheiro é sempre pouco principalmente para quem tem muito. E os outros? E aqueles cuja regalia única era um emprego? Ah sim, esses estão habituados a viver com pouco.

Assusta-me, tenho um filho pequeno e não consigo ver o caminho à frente. Não tenho um ordenado milionário, trabalho sim, mas nada é certo e assusta-me ver-nos neste caminho a empurrar o problema com a barriga, a soprar cada vez mais no balão.
E chocam-me as histórias  e estatísticas diárias, e chocam-me os suicídios em desespero. E tento pensar que estamos noutro momento de transição, que passaremos tudo isto e renasceremos mais sábios e mais fortes. Sei que o velho tem que morrer para dar lugar ao novo. E sei que o tempo para isso é o necessário para o sangue novo preencher o espaço do pensamento velho... E sei também que o tempo é linear. Um dia atrás do outro, com o tempo que o tempo tem.

E choca-me a falta de respeito pela vida, adolescentes a venderem os seus próprios orgãos (rins neste caso) para comprarem um computador ou um telemóvel, chocam-me os suicídios (ou tentativas) de actores em palco... em pleno palco!
Estaremos todos loucos?
Banaliza-se tudo, já nem notamos a violência dos momentos, dos actos, das palavras em cada esquina, em cada casa, em cada escola.
Tudo é "normal" já nos habituámos a ver de tudo...  Já nem ligamos.

Tive uma sorte tremenda de crescer numa época de muitas dificuldades que nos fizeram sentir na pele o que era ou não possivel ter. Numa época em que a boa educação e o respeito por nós próprios e pelo próximo era uma ferramenta eficaz e um motivo de orgulho para o próprio e para a família. E a outra educação, a que se aprendia na escola, era a chave de ouro para a porta de um futuro melhor.
Numa época e num meio que não perpetuava ou mesmo permitia nada que não fosse trabalhar para ter, para fazer, para poder.
Saber até onde se pode ir e principalmente priscindir do superfulo , abdicar do que não faz falta, isso faz toda a diferença.

E não, não acho que antigamente é que era bom, antigamente é que se aprendia a viver.

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