10 de março de 2012

Sempre por bom caminho

Ainda na semana passada uma moça japonesa , em Lisboa apenas por dois dias, me dizia o quanto se tinha encantado por esta cidade, tão calma, tão tranquila.
Em plena Baixa numa rua não pedonal onde qualquer veículo com pretensões puxa do prioritário e liga a sirene para passar no cruzamento sem parar no semáforo, seja polícia, INEM, qualquer tipo de ambulância, bombeiros, corpo diplomático, etc. E o fumo, e o pó preto fininho que entra por todo o lado mesmo de portas e janelas fechadas.
E ela dizia, num inglês perfeito, "que cidade tão tranquila!" e eu respondia que em perspectiva acreditava que parecesse mesmo tranquila mas, quem cá está, tem sempre que se queixar de qualquer coisa.

Dos altos e baixos (geográficos), do perto e longe que tudo está ao  mesmo tempo, das ruas sujas, do barulho, dos dias em que o eléctrico encrava e as filas de trânsito se tornam impossíveis, das manifestações que passam todas por ali, dos carros em segunda e terceira fila, dos taxistas que encostam à esquerda (para tomarem o pequeno almoço) mesmo à porta da pastelaria, da marcação cerrada dos assaltantes do  (eléctrico) 28 aos turistas, das obras intermináveis das intervenções nos prédios pombalinos para uma reabilitação urbana a preços inacessíveis, do trabalho contínuo dos calceteiros principalmente  no buraco à nossa porta que teima em não acolher as pedras...

Claro que tudo isto traz um carácter único a esta zona. A ligação que se forma  não é só com as pessoas, os espaços condicionam-nos não só no comportamento mas também nas emoções. Cada um de nós liga-se de forma diferente aos espaços que habita, dependendo para isso também da capacidade de observação e aceitação do que rodeia esses espaços.
Lisboa é como qualquer outra cidade, mas, as suas características geográficas ditaram a forma como foi ocupada, como foi construída e como é vivida.

Tendo a baixa pombalina e principalmente o Castelo, como berço, por ter sido um local estratégico e prontamente ocupado, a história está ali por inteiro e é deveras interessante porque até a toponímia deixa (ainda) adivinhar tudo o que por ali se passou. Rua do Poço do Borratém assim como o Pocinho em Alfama, nomes que ficaram de alguns locais específicos de recolha de água numa época em que havia gente a mais para água a menos. A Rua da Prata, antes, Rua dos Ourives da Prata ( e antes, Rua Bela da Rainha). A Rua da Judiaría, a Rua dos Bacalhoeiros, a Rua dos Correiros onde se compravam os arreios...
E nos dias em que a Rua da Conceição fecha aos veículos para abrir ao público as galerias romanas, é fantástico, é uma tranquilidade, anda-se por ali sem a preocupação do trânsito e parece que se passeia por uma cidade completamente diferente.

Quando o tempo começa a melhorar há sempre algo de novo a acontecer na Praça do Comercio - um espaço em contínua transformação. Os casamentos de Santo António e, claro, Festas de Lisboa!
As marcas de tempos idos, a arte, a street art que nasce todos os dias e tantas vezes se renova... a criatividade fantástica de quem habita as noites da Baixa Lisboeta.

As cores, a luz, o cheiro, os sons, vou sentir saudades.
As minhas pequenas voltinhas a caminho do trabalho, em busca de coisas novas, cada dia por uma rua diferente. Acabou. Este capítulo fechou, o próximo passo é a transição para Benfica, sitio que conheço bem, muito trânsito mas nem por isso tão pouca história. Para fotografar sei que encontrarei sempre muito para onde quer que vá.
Para já, dois ou três dias de férias para retemperar forças e vontades e colocar alguma ordem no caos instalado que os últimos tempo não conseguiram evitar.
Pelo meio, o Carnaval, o dia 29 de Fevereiro, o primeiro aniversário deste blog, o Dia da Mulher, um ou outro aniversário e sei lá mais o quê que mereciam umas palavrinhas rascunhadas mentalmente mas, não houve tempo.

Na minha "wish list" mental fica agendado para qualquer dia um percurso pedonal fotográfico de Santos até ao Panteão (ou vice-versa) mas não junto ao rio, por dentro. E as visitas a tantas lojas antigas a que me prometi voltar no dia seguinte com mais tempo, para fotografar antes que desapareçam.
Andar por Lisboa e ver tudo tudo, por si só, é um trabalho para a vida.

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ideias caídas das nuvens