8 de julho de 2014

A vida


Os dias passam a correr, ainda ontem nos queixávamos que Janeiro parecia não terminar e hoje já estamos em Julho. A vida não passa, a vida ultrapassa.
Nada de especial se alterou na nossa vida nos últimos tempos, mas, de alguma forma algo mudou e mudou-nos também.  Se calhar estamos só a "crescer" (uso aqui o termo crescer em substituição de envelhecer). "Crescer" tem a força de nos fazer ver tudo de um ponto de vista mais optimizado, somos cada vez mais selectivos, não que não gostemos já das mesmas coisas, mas seleccionamos melhor, há coisas que não nos fazem mesmo falta nenhuma, eliminamos não só o supérfluo, eliminamos o simples extra. A vida não é mais a mesma. Parece-me.
Ainda estou a tentar perceber.

Quando escolhemos a casa onde hoje habitamos fizemo-lo pelas varandas e pela vista desafogada com o  horizonte a perder de vista. O campo à volta - espaço não construído - foi uma mais valia também. Com o tempo começámos a conhecer a vivência da zona, árvores,  flores e borboletas por todo o lado. O canto dos pássaros cedo pela manhã e até tarde no dia, coelhos e perdizes mesmo ali do lado de fora da janela. Um privilégio para quem vive na cidade, mesmo. E pensar que procurámos casa fora de Lisboa porque dentro eram demasiado caras.
Pode parecer que vivemos num condomínio privado numa zona especial de fauna e flora protegidas... mas não, é um prédio comum, daqueles com graves problemas de construção [dos que não se vêem], daqueles que dão logo sinal de vida mal passam os cinco anos de garantia. O costume, e por isso nos sentimos uns sortudos por podermos apreciar a natureza de uma forma bem natural e ao seu próprio ritmo.
E se há alguns anos os coelhinhos só se aventuravam depois das dez da noite já na protecção do escuro, por estes dias é vê-los às sete da tarde, bem ali a aproveitar a erva fresca, e os melros a ensinarem os filhotes a voar, sem pressas, sem pressões. Os humanos estão a ver, mas estes não lhes fazem mal. Acho que eles já sabem.

Assim, chegar a casa depois de um daqueles dias em que mais vale aceitar e levar a coisa a jeito de resignação, porque "podia ser pior", como fazemos sempre que achamos que não temos alternativa, e por um momento, aquele ali mesmo entre o banho da criança e o jantar que ficou ao lume e que nos deu alguns segundos e a mesa está posta e já não dá tempo para começar uma qualquer outra tarefa, nesse momento, sair à varanda e ver a vida tranquila lá fora, sem pressas, sem medos, e cairmos em nós e acharmos que somos uns idiotas com vidas parvas e correrias cegas sem conseguir aproveitar nada de bom. Sem tempo para ver as crianças crescerem, sem tempo para cheirar as flores, sem tempo para apreciar o tempo. Nesses momentos vale o agarrar a sensação, guardar a vontade ali bem à mão para não esquecer e começar a pensar a sério em mudar de vida. Eu sei que eu estou, estou a pensar a sério, antes que a cabeça dê um nó.

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