12 de janeiro de 2014

Criatividade


Quem estudou na área de artes sabe que entre amigos se trocam mais desenhos do que qualquer outra coisa. Desenhar ou pintar era a nossa forma de comunicar com os outros e com o mundo. A vida era doce e cheia de promessas. Íamos criar um mundo de cor e imagens à nossa medida.
Trocámos muitos desenhos que guardei religiosamente. A felicidade assentava naquilo que fazíamos com a intensidade com que o fazíamos.

Acho que quem tem o bichinho da criatividade não se consegue manter quieto por muito tempo. E se o meu tema de eleição se alterou, o bichinho da criatividade quanto muito, cresceu.

De tempos a tempos tenho uma vontade ou ímpeto, sei lá, avassalador de criar coisas novas. Normalmente é dentro da escrita ou da fotografia. Não sou perita em nenhuma. longe disso, nem tão pouco tenho a pretensão de achar que faço coisas brilhantes, é tudo muito amador, muito para mim, principalmente. 
Mas a vontade, a vontade quase que toma conta de tudo, é grande e engole-me no meu mundo diário de trabalho repetitivo e pouco apetecível.

Normalmente é em casa, à noite, quando todos dormem que consigo dar um pouco de asas à imaginação, mas, regra geral o cansaço vence e a parte de mim que ainda deseja criar algo, rende-se e deixa-se levar com a promessa interna de regresso à tentativa num futuro muito próximo.
Às vezes, com a ajuda de uma boa dose de inspiração consigo fazer-me a vontade, num esforço, submeto o cansaço àquilo que me faz feliz e passo umas largas horas a saciar-me. A culpa depois ataca, o tempo que passo para mim é tempo que depois não tenho ou não vou ter para o meu filho.

A maternidade é lixada. A vida muda tanto, o pior é que às vezes o nosso interior não quer mudar. Às vezes, o nosso interior não reconhece aquela força que nos atira para longe de quem somos, para longe de nos satisfazermos, para longe de tudo o que existe dentro de nós. E os nossos filhos também não, mesmo não tendo a noção, sei que os nossos filhos nos querem tão verdadeiras a nós próprias quanto nós não somos capazes de nos permitir. Estamos todas trocadas, somos bichinhos de contradições. 
Às vezes faço-lhe um desenho, ele fica feliz e quer desenhar também. Oferece-me muitos desenhos, é agora a forma de comunicar que ele tem com o mundo. Mais tarde quando dominar o pormenor, a linguagem alterar-se-á, Talvez continue a desenhar, talvez passe a exprimir-se por palavras. 
Espero que não perca essa capacidade, espero que não ceda, espero que se mantenha verdadeiro a quem quer que venha a ser no seu interior, espero que o cansaço nunca a venha tomar conta dele, espero que a vida lhe venha a permitir sempre boas doses de criatividade satisfeita, um bom percurso e a companhia permanente da felicidade dentro dele. É este o desenho em palavras que faço para ele hoje.
Que mais pode uma mãe desejar para um filho?

Sem comentários:

Enviar um comentário

ideias caídas das nuvens