A maternidade é uma injecção de maturidade que recebemos sem
aviso no dia em que a criança sai de dentro de nós, ou em alguns casos, no dia
em que o teste e gravidez dá positivo. É como um balde de água que nos cai em
cima, e, a partir dali passamos a viver sempre molhadas e geladas e não temos
nem a noção que podemos secar-nos e mudar de roupa porque não faz mal nenhum
pensarmos um bocadinho em nós.
A maternidade dá-nos uma nova perspectiva sobre a vida, o
futuro, e principalmente, o passado. Em menos de um fósforo, tudo aquilo em que tínhamos a certeza que sobre educação os nossos
pais estavam completamente errados, altera-se. A ponto de mesmo não concordando
(porque estimamos profundamente os nossos auto-infligidos traumas), reconhecemos
que fizeram o melhor que sabiam, porque nos amaram.
A maternidade tira-nos a objectividade, tira-nos também o
sono. Se antes, depois de um dia cansativo dormíamos tão profundamente que um
comboio podia passar junto à cama sem darmos por isso, agora podemos não dormir
há quatro dias que mesmo assim despertamos com uma simples respiração mais profunda da
nossa cria, no quarto ao lado.
Ficamos a vê-los dormir em adoração e maravilhamo-nos com a
nossa capacidade e ter criado uma tão maravilhosamente bela criatura. Não há no
mundo coisa mais perfeita.
Como dizia, perdemos a objectividade. É assim que é suposto funcionar.
No dia em que a pneumonia foi detectada ao G, a médica
recomendou 10 dias sem sair de casa, e sem contacto nenhum com quem quer que
fosse que apresentasse sinais de gripe. Assim foi.
No trabalho perguntavam-me por ele, e eu, mãe nada dada a
essas coisas de pôr o pintainho debaixo da asa, e com medo de criar uma flor de
estufa, dizia que lá para o décimo dia já iria à escola. Ouvi coisas como: “oh,
vê lá, está tanto frio, nem tanto ao mar nem tanto à terra”. Da escola fui
sabendo de outros casos que iam e vinham do médico para reavaliação. À minha
volta vi mães que ao primeiro espirro enfiavam a criança em casa por três e quatro
dias. E comecei a duvidar deste meu “desembaraço”. Comecei a pensar que já não
era desembaraço, era imprudência mesmo.
Dez alucinantes dias preso em casa. Ao oitavo dia começa a
espirrar e surge a boa da ranhoca. Ao décimo primeiro dia (sábado) sai um pouco à rua e ao décimo segundo dia (domingo) também. Surge um pouco de tosse. Injurio-me mentalmente. Que
raio de mãe sou eu? Que mãe no seu perfeito juízo age como se de vulgar gripe
se tratasse? Caio em mim e reconheço, o tal do “nem tanto à terra, nem tanto ao
mar”. Agora retomo a objectividade e penso como uma mãe perfeita, pondero o
resto do Inverno dentro de casa. Para o ano proponho à escola um período de
hibernação.
É fácil perdermo-nos no exagero, mas às vezes, no meio de
todo um mar de emoções, culpas, desejos, contradições, preocupações (…) é mesmo
difícil perceber onde está o equilíbrio.
Apelando a uma objectividade e a uma lucidez que nem sempre alcanço, espero ter a capacidade de fazer escolhas equilibradas no que
toca ao meu filho. Seja em relação à saúde, seja em relação a tudo o resto.
Afinal uma mãe perfeita nunca erra e a sua cria nunca sofre com as suas
decisões… Pois!...
Seguem-se mais um ou dois dias de adaptação à verdadeira
temperatura do Inverno e depois levamos com a vida real
em cima que até andamos de lado.
Tem que ser.
As melhoras! Um beijinho
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