Há uns dias a caminho da escola ao som do "Desfado" da Ana Moura ("ai mas que sorte eu viver tão desgraçada"), o meu filho pergunta o que é "desgraçado".
- Desgraçado é uma pessoa infeliz, sem nada, sem amigos, sem ninguém.
- Ah, então eu sou desgraçado! - começou com voz chorosa.
(Passei-me)
- Oh G, estás maluco? Uma desgraçado é um miserável, sem nada, sem roupa, sem comida, sem casa, sem ninguém.
- Mas eu sou desgraçado porque vocês fazem-me. - Atacou - Sou sozinho, não tenho ninguém para brincar... sou um desgraçado.
Seguiu-se uma ensaboadela, ou melhor, um ensaio sobre a desgraça, sei que é o mimo, sei que quer ainda mais atenção, mas custa-me, custa-me que esta gente pequena, aos quatro anos saiba já usar destes argumentos. Às vezes vem muito choroso ter connosco: "Oh mãe, não precisas de mim para nada?" Se estou a fazer algo que ele não pode mesmo ajudar digo-lhe que preciso muito dele mas não para aquela tarefa específica. Ele desespera: "ninguém precisa de mim!"
Oiço e faz eco cá dentro, aflige-me aquele desespero e sei nesses momentos que me saberá manipular magistralmente.
Sem comentários:
Enviar um comentário
ideias caídas das nuvens